Moda Praia

5 de Julho Dia Mundial do Biquíni 👙

1946 foi um grande ano. A guerra havia acabado. A UNESCO e a UNICEF passaram a existir. O primeiro Festival de Cinema de Cannes aconteceu. Cher e Dolly Parton nasceram. Evelyn Waugh publicou Retorno a Brideshead, várias gerações de jovens idealistas sonhando com calças brancas de linho. E o biquíni moderno fez sua entrada oficial no mundo.

É claro que ele não foi o primeiro exemplo de roupa de banho – nem mesmo de um duas-peças. Na Grécia e Roma antigas, as mulheres usavam tops e partes de baixo feitos de lenço para participarem de esportes, conforme ilustrado nos mosaicos encontrados em Villa Romana Del Casale. Mais para frente, os vitorianos, com seu cada vez maior interesse em balneários, favoreciam o comedimento em suas incursões em banhos ao ar livre: as primeiras fotos da roupa de praia mostravam mulheres de vestidos longos e calções para enfrentar as ondas.

Como o biquíni se tornou o item mais explosivo do vestuário (Foto: Getty Images)

No entanto, a primeira metade do século 20 viu uma rápida redução na quantidade de tecido necessário para ir à praia. Uma jornada cercada de polêmica, que incluiu a prisão da nadadora australiana Annette Kellerman em Boston em 1907, quando ela usou uma roupa de banho mais justa, ainda que a cobrisse do pescoço aos dedos do pé. Vários anos mais tarde em 1913, o estilista Carl Jantzen introduziu um duas-peças composto por shorts e top justo, que também foi recebido com desconfiança.

No entanto, com a chegada da década de 1920, exibir a pele foi sendo considerado muito menos ousado – enquanto a década de 1930 viu as costas e as laterais ganhando não apenas espaço, mas uma exposição séria. Desde os lindos maiôs com recortes de Claire McCardell até a aparição de estrelas como Jayne Mansfield, Rita Hayworth Ava Gardner – para não falar de inúmeras pinups e showgirls – em peças únicas mais reveladoras e, cada vez mais, duas peças, a natureza do que era um traje aceitável mudava continuamente. Mas havia um problema. O Código Hays, um conjunto de regras em vigor em Hollywood a partir de 1934, proibia a exibição de umbigos em filmes, o que significava que a parte de baixo dos duas-peças tinha de chegar até a cintura.

Foi apenas após a II Guerra Mundial que o umbigo teria seu momento. No verão de 1946, dois estilistas diferentes tentaram criar uma roupa de banho inovadora. Com intenção bastante semelhante, o atome de Jacques Heim, e o le bikini de Louis Réard – ambos os nomes refletindo o impacto explosivo que sentiam que essas peças teriam – apareceram. Foi o segundo, exibido vários dias depois que os EUA detonaram pela primeira vez um dispositivo nuclear sobre o Atol de Bikini, que veio para ficar. Supostamente tão provocador na aparência que a maioria das modelos se recusava a usar, o design mínimo de Réard, completo com fio dental, foi por fim exibido por uma stripper de 19 anos, Micheline Bernardini.

Como o biquíni se tornou o item mais explosivo do vestuário (Foto: Getty Images)

Levaria um pouco mais de tempo para o traje ficar banal – inicialmente banido em muitas praias, e usado com maestria em outras ocasiões, como Brigitte Bardot no filme de 1952 Manina, la file sans voile. No entanto, foi na década de 1960 que ele realmente ficou conhecido. Foi a década que mostrou Ursula Andress surgindo das ondas com aquele infame biquíni branco (complete com faca) em 007 Contra o Satânico Dr No, Raquel Welch usando o mínimo possível feito de peles animais em  Mil Séculos Antes de Cristo e Nancy Sinatra aparecendo na capa do LP de Sugar com um modelo rosa-chiclete.

 

A popularidade da peça continuaria a aumentar na década de 70, com tecidos como o crochê – como Pam Grier em Coffy, Em Busca da Vingança – e todo mundo, desde Pat Cleveland a Cheryl Tiegs e o trio original de As Panteras aderindo ao seu apelo. Nos anos 80 Phoebe Cates em Picardias Estudantis ficaria altamente memorável ao sair de uma piscina usando um vermelho vivo, assim como Carrie Fisher de dourado em Star Wars. Com a chegada dos anos de 1990, inúmeros modelos chamariam a atenção, desde os simples e esportivos a desenhos beirando cada limite escasso do que poderia ser razoavelmente chamado de biquíni (veja o desfile da Chanel em 1996).

Como o biquíni se tornou o item mais explosivo do vestuário (Foto: Rex Features)

O que fica imediatamente claro na história do biquíni é também uma história do corpo: uma história de carne, censura, provocação e cada vez mais algumas expectativas bastante frustrantes. Como ainda é o caso hoje, muitas das figuras que popularizaram o biquíni sob o olhar público eram aquelas cujo físico era considerado desejável – seguindo um conjunto culturalmente limitado de padrões de beleza, além de habitarem um modo particularmente palatável de atitude sexy.

Talvez o biquíni seja algo que exista nos olhos de quem o vê. O que já foi uma ousada afirmação de liberdades para alguns, tanto de vestuário quanto outras, se tornou um símbolo do onipresente olhar masculino e pressões colocadas sobre as mulheres por outras mulheres. Suas muitas tensões são as que ainda nos afligem hoje, seja discutindo a necessidade de maior inclusão nas modelos que vemos exibindo roupas de banho, seja em frases horrendas como “bikini body ready” ou batalhas jurídicas pelos direitos de mulheres muçulmanas usarem burkinis. Um design específico também foi recentemente núcleo de polêmica litigiosa.

Dificuldades à parte, no entanto, os tempos continuam favoráveis para o biquíni, com inúmeras marcas de swimwear surgindo nos últimos anos – de Hunza G brincando com a nostalgia dos anos 1990 até a Solid & Striped oferecendo opções mais sustentáveis. O traje de Bond Girlspop stars, surfistas, influencers identikit e qualquer uma que queira apenas ir nadar ou se bronzear usando algo diferente da peça única, ele é agora um traje versátil – dadas as circunstâncias certas, ele ainda pode fazer muito barulho.

Fonte: Vogue

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Nossas Linhas